Timor: «Fretilin não assumirá compromissos deste Governo»
Diário Digital / Lusa
29-10-2007 4:34:00
Um «futuro governo» da Fretilin não assumirá compromissos do actual Executivo timorense, afirmou o secretário-geral do partido, Mari Alkatiri, à Agência Lusa.
«Não haverá reconhecimento automático das decisões assumidas por este Governo inconstitucional», declarou Mari Alkatiri, entrevistado pela Lusa em Díli.
«Na melhor das hipóteses, os compromissos serão revistos caso a caso por um futuro governo da Fretilin«, acrescentou o secretário-geral do maior partido timorense, no regresso de um retiro de dirigentes e quadros no sul do país.
Mari Alkatiri explicou que a revisão recomendada pelo retiro da Fretilin visa «em particular os compromissos internacionais que violem a nossa soberania, ponham em causa a nossa independência e a exploração dos nossos recursos».
O ex-primeiro-ministro reafirmou a sua convicção de que «a Fretilin está condenada a vir ao poder, mais tarde ou mais cedo, e mais cedo do que tarde».
Os três dias de retiro em Holarua, distrito de Manufahi, serviram para a Fretilin «encontrar as brechas que permitiram que o golpe acontecesse em 2006 e que a conspiração, surgida já em 2002, se perpetuasse», afirmou Mari Alkatiri.
Segundo o dirigente da Fretilin, «agora está mais claro que Xanana Gusmão é um dos conspiradores e, se a justiça funcionar, chegar-se-á aos outros».
«Xanana Gusmão tem aliados internos e externos, mas não quero antecipar uma investigação mais séria», respondeu o ex-primeiro-ministro quando questionado sobre a quem se referia.
Mari Alkatiri adiantou que a Fretilin vai continuar a divulgar «provas», referindo a gravação de uma conversa telefónica, sem origem e sem data, que envolve um ex-deputado, o Procurador-Geral da República e o ex-chefe de gabinete de Xanana Gusmão.
«Esperávamos do Presidente da República uma reacção mais sensata à gravação«, explicou Mari Alkatiri sobre José Ramos-Horta, que questionou apenas a proveniência da gravação.
«Talvez ele esteja comprometido.»
«Temos mais dados que, em tempo oportuno, vamos divulgar», prometeu Mari Alkatiri.
Interrogado pela Lusa sobre a origem das alegadas «provas» e o acesso da Fretilin a elas, Mari Alkatiri respondeu apenas que «há muitas coisas».
«Este país é pequeno e as pessoas começaram a ficar frustradas« com o novo Governo», comentou o secretário-geral da Fretilin.
No retiro de Manufahi, a Fretilin «definiu estratégias para ultrapassar as dificuldades e acelerar a queda do Governo de Xanana Gusmão», afirmou Mari Alkatiri.
«De modo algum vamos colaborar com o Governo inconstitucional», sublinhou.
«Temos sido suficientemente tolerantes e tem sido nossa estratégia mostrar que eles são incapazes de governar, para que quando o Governo cair não digam que fomos nós que não permitimos que eles governassem».
A Fretilin, vencedora das eleições legislativas de 30 de Junho, não reconhece o IV Governo Constitucional, da Aliança para Maioria Parlamentar, chefiado pelo ex-Presidente da República Xanana Gusmão.
Os mais de mil participantes no retiro de Manufahi analisaram ainda os «problemas» herdados da luta de libertação nacional.
«A verdade é que a luta foi bem sucedida mas criou alguns problemas mal resolvidos, que nós herdámos nesta geração de liderança», afirmou Mari Alkatiri. «Temos que assumir isso e não podemos passar as culpas para os mortos, como muitas vezes Xanana Gusmão faz. Quem já morreu, já morreu.»
Coincidindo com o final do retiro da Fretilin, foram exibidos e homenageados os restos mortais de Vicente Reis, líder da resistência morto em 1979, enterrado em Manufahi.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
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